Prestes a dar oito da manhã, era o
horário que meu cachorro costumava a arranhar a porta do meu quarto pra entrar.
Minha irmã
já havia ido pro colégio e meu pai pro trabalho, minha mãe cuidava de afazeres repetitivos e banais lá pra baixo. Nos primeiros, e únicos
suportáveis, segundos, eu ignoraria as
unhinhas dele implorando pra entrar. Mas logo me renderia e levantaria, ainda de olhos grudados do ultimo sonho que estava tendo e enrolada no meu
edredon rosa, favorito. Abro a porta e ele vem me brindando uma alegria, uma saudade, como se tivesse ficado dias longe dali, 'agora não, bebê, quero dormir!', e fecho o olho de novo enquanto ele se muda de cama uma generosa quantidade de vezes. Pouco mais de meia hora depois eu escutaria minha mãe ligar o programa favorito de
TV que ela nunca assiste, só escuta, lhe falta tempo. Varre, passa pano, me expulsa da cama e eu faço higiene matinal mecanicamente com sono demais pra saber o que ta acontecendo. Ela desce, o quarto ta limpo, e eu volto pra cama. Vez do cachorro, mordisca meu pé, sobe na cama, pula na minha barriga, e se não adianta : pula na minha cabeça como se deixasse escapar um sorriso ' chega de dormir, eu tenho necessidades
fisiológicas'. Me levantaria, uma calça qualquer e um par de chinelos, numa boa manhã até pentearia o cabelo. Eu saio e sinto o abraço do dia ensolarado, aurora mineira brilhava nos
pelinhos loiros e arrepiados de frio no meu braço, o cheiro de mato molhado, meia
dúzia de passarinhos cantando cada um sua forma de galanteio e minha mãe largando as panelas no fogo só pra olhar enquanto a gente ia passear.
Mas que coisa, hoje é sábado!
Não tem aula, não tem trabalho, não tem tarefas corridas.
Só tem essa saudade de casa que não cabe mais em mim.
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