domingo, 10 de maio de 2009

- dona maria e dona rita, minhas donas;

Segundo domingo de maio, o primeiro em que eu não acordo vendo a manhã mais bonita cantada por barulhos de embrulhos e café na cama com pandega de cães ameaçando derramar tudo que foi preparado pra despistar o esgotamento camuflado em seu sorriso. Seus cachos avermelhados e desgrenhados emoldurando um rosto satisfeito que contempla a missão cumprida de ver o gesto unido sobre a cama de casal e sob o frio matutino. Seriam abraços e flores com cheiro de sono e certo desconcerto em felizar seu colo maternal. Antes eu costumava caber nele, eu nem me lembro desse tempo mas posso referir-me ao agora que é quando volto a habita-lo e contentar-me com isso. Em colo teu de peito acelerado grita uma saudade entorpecida, impotente. Em colo meu de peito apertado canta a reciproca que se rende às lágrimas rotineiras e que hoje, em especial, resolveram não cair.
É vazio maior ainda lembrar-me de não conseguir esquecer, que é o primeiro segundo domingo de maio sem pantufas rosas caminhando incessantemente pelos azulejos gelados da casa mais antiga que ainda reuni novos e velhos hábitos. Sem o sorriso e cabelos falhos, que se perderam com o tempo, assim como a lucidez. Ta ali, no meio daquelas nuvens que se desenham aqui com cores diferentes das que ilustram o céu cercado de montanhas daí, o olhar vago de quem ta muito longe mas nos dedicando sempre toda a atenção possível. Quem de alguma forma ta ali unindo todas essas lacunas brutas que surgiram no nosso elo inseparável
E hoje a noite eu não vou entrar no banheiro atrás de você pra comentar sobre a semana, sobre a novela ou qualquer outra coisa que valha, e nem vou ter tapas na mão amanhã pela manhã quando roubar as azeitonas do almoço que você estaria preparando na típica correria entre roupas no varal e telefone tocando. São coisas que se perderam no tempo quando eu me perdi em muitas milhas.
Mas quando a noite de fato chegar eu vou me deitar querendo escutar aquele velho radio amarelo tocar algumas musicas que não te agradam, sentir o cheiro forte do sofá azul que guarda historias de dias de ontem e amanhã de todo um clã, lembrar-me de como eu só assistia vocês duas caminhando de um lado para o outro ajeitando o o sono. Vou sentir seu gosto de café e cigarros e querer brinda-los com qualquer forma de orgulho que eu puder levar envolto em um laço de fitas coloridas como presente pra te entregar na volta pra casa.

terça-feira, 5 de maio de 2009

- mil agulhas

Um carro freia gastando pneus e expondo vozes na madrugada fria que toma conta da rua depois do meu portão, deveras meu, na verdade apenas me guarda e abriga enquanto conflito e desaguo as olheiras que em mil voltas na cama proclamam insistência em me acompanhar. Outrora eu fantasiaria essas trocas sibilantes tão comuns aos sons da minha vida mineiroca que ficou pra trás, mas hoje não, estou ocupada demais com papeis e calculadoras, adiando projectos e elaborando as desculpas que usarei pra desfazer expectativas que criei daquela típica forma efusiva.
Pois cá estou, saboreando o esgotamento diante da fadiga que me consome por essas tais responsabilidades. Alma do outro mundo representada em valores, em números e em obrigações. A noite voltou a me brindar silencio, como se fizesse questão de mostrar o quão sozinha eu caminho por aqui. Mas vou caminhando, a passos preguiçosos, custosos, que hora parecem não levar a lugar nenhum, mas que cedo ou tarde vão virar alguma esquina que me faça sorrir sem doer outra vez.